O Grupo Adamantina que inclui o Expresso Adamantina, entrou recentemente com um pedido de recuperação judicial na Justiça de São Paulo.
A medida, anunciada em novembro de 2024, busca reestruturar as finanças do grupo e evitar a falência, enquanto tenta garantir a continuidade dos serviços e a preservação de 230 empregos diretos.
A justificativa oficial se baseia nos impactos econômicos da pandemia da COVID-19 e na revogação de concessões de linhas de ônibus pela ANTT.
No entanto, nesse artigo reunimos uma análise mais aprofundada, que pode revelar fatores estruturais e de gestão para contribuição significativa para a atual situação do grupo.
Empresas do Grupo Adamantina
- Expresso Adamantina Ltda.
- Martins & Guimarães Transporte e Turismo Ltda.
- Rápido Linense Ltda.
- Transportes Labor Ltda.
- VAT – Viação Adamantina de Transportes Ltda.
- Januária Transportes e Turismo Ltda.
- M.G. Transportes – Junqueirópolis Ltda.
- Maria Ivoneide Nascimento Martins Ltda.
- Empresa de Ônibus Romeiro Ltda. (Guimatur).
Problemas de operação recorrentes
Nos últimos tempos, o Expresso Adamantina tem enfrentado críticas crescentes devido a problemas recorrentes com atrasos em suas operações e uma frota em mal estado de conservação.
Recuperação judicial, entenda o que é
A recuperação judicial é um mecanismo legal regulamentado pela Lei nº 11.101/2005, destinado a empresas que enfrentam dificuldades financeiras graves.
O objetivo é evitar a falência, permitindo que a empresa renegocie suas dívidas, reorganize suas operações e volte a ser viável economicamente.
No caso do Expresso Adamantina, o pedido surge em meio a uma combinação de fatores internos e externos que impactaram sua sustentabilidade.
As causas citadas pelo grupo incluem:
- Impactos da pandemia da COVID-19: Redução significativa de passageiros e receitas durante o período mais crítico da pandemia.
- Revogação de concessões pela ANTT: A perda de importantes rotas de operação agrava a situação financeira.
- Dificuldades de manter serviços essenciais: A empresa alega que as adversidades comprometeram sua capacidade de operar de forma sustentável.
Contudo, enquanto a pandemia e a regulação são mencionadas como principais motivos, outras questões, como má gestão e contradições nas estratégias de expansão, também precisam ser consideradas.
A contradição da expansão para novos mercados
Nos últimos anos, o Expresso Adamantina demonstrou interesse em expandir suas operações, solicitando e obtendo autorizações para atuar em novos mercados. Entretanto, essa estratégia de expansão parece ter sido implementada sem a devida preparação financeira e jurídica.
Um exemplo emblemático é a operação de algumas linhas de forma liminar, ou seja, sem autorização definitiva.
Em um desses casos, a linha foi contestada e suspensa por decisão judicial a pedido do Grupo Gontijo, evidenciando a fragilidade da atuação da empresa nesses mercados.
Esse episódio levanta questionamentos sobre a real capacidade do grupo de sustentar operações adicionais enquanto já enfrentava dificuldades em mercados tradicionais.
Venda de linhas para concorrentes: o contraste com o Grupo Comporte e Guerino Seiscento
Outro ponto crucial é a venda de boa parte das operações intermunicipais do Expresso Adamantina no estado de São Paulo para empresas concorrentes, como o Grupo Comporte e a Guerino Seiscento. Essas empresas assumiram as linhas e não apenas mantiveram as operações sem prejuízos, mas também investiram em novos veículos, demonstrando que essas rotas têm viabilidade econômica.
Se essas linhas fossem realmente deficitárias, dificilmente empresas com histórico de boa gestão, como o Grupo Comporte de Nenê Constantino e a Guerino Seiscento, teriam interesse em adquiri-las e operar com êxito.
Esse contraste ressalta que os problemas enfrentados pelo Expresso Adamantina não estão necessariamente ligados aos mercados em si, mas sim à sua gestão e estratégia interna.
Por que a justificativa da pandemia já não convence?
Embora a pandemia tenha afetado severamente o setor de transporte rodoviário, usar esse argumento como principal justificativa em 2024 já não é suficiente.
A realidade é que grande parte das empresas do setor já conseguiu superar os impactos desse período por meio de renegociação de contratos, readequação de frotas e ajustes operacionais.
Empresas como o Grupo Gontijo e a própria Guerino Seiscento enfrentaram os mesmos desafios econômicos e sanitários, mas mantiveram sua saúde financeira sem recorrer à recuperação judicial.
Além disso, é importante considerar que a pandemia não explica questões estruturais, como a má alocação de recursos, a falta de planejamento estratégico ou perda de concessões, onde também podemos destacar que a Adamantina tem a concessão da linha mais movimentada do Brasil em parceria com a FlixBus, a linha entre São Paulo e Rio de Janeiro.
Consequências do pedido de recuperação judicial
O pedido de recuperação judicial do Expresso Adamantina traz impactos significativos para todos os envolvidos, desde os credores até os clientes e funcionários. Entre as principais consequências, estão:
- Impacto na credibilidade: O pedido pode abalar a confiança de clientes, fornecedores e parceiros.
- Restrição de crédito: Empresas em recuperação judicial enfrentam dificuldades para obter financiamentos, prejudicando investimentos futuros.
- Riscos para os funcionários: Apesar da promessa de preservação de empregos, a reestruturação pode levar a cortes e ajustes operacionais.
Por outro lado, a recuperação judicial também oferece benefícios, como a suspensão temporária de cobranças e execuções judiciais, o que pode dar à empresa o fôlego necessário para reorganizar suas finanças.
O papel da ANTT e a revogação de concessões
O Expresso Adamantina também aponta a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) como uma das responsáveis pela crise, alegando que a revogação de importantes concessões de linhas impactou severamente suas operações.
Entretanto, é necessário avaliar os motivos dessa revogação. Se estiverem ligados à má prestação de serviços ou ao descumprimento de obrigações contratuais, o problema pode estar mais relacionado à gestão do que à regulação.
Aprendizados para empresas como o Expresso Adamantina
O caso do Expresso Adamantina evidencia um cenário complexo, onde fatores externos, como a pandemia e a regulação, se combinam com falhas internas de gestão e estratégia.
O pedido de recuperação judicial, embora seja um recurso legítimo, não pode ser visto como uma solução para problemas estruturais.
A comparação com empresas como o Grupo Comporte e a Guerino Seiscento, que assumiram linhas do Expresso Adamantina e as operam com sucesso, reforça a necessidade de transparência, planejamento e responsabilidade na gestão.
O futuro do grupo Adamantina dependerá não apenas da aprovação de um plano de recuperação judicial, mas também da capacidade de enfrentar suas falhas e reconquistar a confiança do mercado.
Se a recuperação judicial for conduzida com seriedade e compromisso, o Expresso Adamantina pode ter uma nova chance de se reerguer.
Porém, para isso, será necessário muito mais do que alegar os impactos da pandemia – será preciso repensar a forma como a empresa opera e se posiciona no mercado.
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