Harold Nielson (pronuncia-se “Níl-son”) é um nome gravado na história do transporte rodoviário brasileiro, conhecido por seu papel visionário à frente da Busscar, uma das maiores fabricantes de carrocerias de ônibus do país.
Sua trajetória foi marcada por inovações e uma visão empresarial que levou a empresa, inicialmente uma pequena marcenaria familiar, a conquistar mercados internacionais e a se tornar uma das mais respeitadas do setor.
A ascensão de Harold à liderança da marca, sua capacidade de transformar a Nielson em Busscar e sua contribuição inestimável para o transporte rodoviário são aspectos que ainda hoje ressoam na indústria de ônibus no Brasil.
A História da Nielson: De Marcenaria Familiar a Carrocerias Nielson
A história começa em Joinville, Santa Catarina, em 1946, quando os irmãos Augusto Bruno e Eugênio Nielson, descendentes de suecos, fundaram uma marcenaria chamada Nielson & Irmão. Inicialmente, a empresa fabricava móveis de madeira, mas em 1947, os irmãos foram contratados para reformar uma carroceria de ônibus. Esse trabalho abriu portas, e, em 1949, a Nielson & Irmão construiu sua primeira jardineira (uma carroceria de madeira sobre um chassi Chevrolet Gigante), entrando definitivamente no mercado de transporte.
Em 1956, Harold Nielson, filho de Augusto Bruno, passou a integrar a empresa. Jovem, dinâmico e ambicioso, Harold trouxe uma nova visão e contribuiu para que a marcenaria se tornasse uma fabricante de carrocerias de ônibus. Sob sua liderança, a empresa começou a desenvolver modelos próprios e a se consolidar como a Carrocerias Nielson.
O Lançamento do Diplomata e a Expansão Nacional
Na década de 1960, Harold deu um passo importante para o futuro da empresa ao introduzir a carroceria Diplomata. Esse modelo, lançado em 1961, se destacou pelo design inovador e robusto, com características que o tornaram único no mercado brasileiro. Com o Diplomata, a Nielson conquistou o setor de transporte rodoviário, oferecendo um ônibus confortável, seguro e durável – qualidades que o tornaram referência para empresas de turismo e transporte intermunicipal.
O Diplomata se tornou um verdadeiro símbolo da marca Nielson. Seu design, que incluía um teto em dois níveis e uma grade traseira inspirada em ônibus americanos, era arrojado para a época e rapidamente conquistou o mercado. Esse sucesso impulsionou a empresa e a colocou em posição de destaque no Brasil, abrindo caminho para uma produção cada vez maior e para a expansão nacional.
A Transformação para Busscar: Um Novo Ciclo
Em 1989, a empresa passou por uma transformação significativa sob a liderança de Harold. A Carrocerias Nielson adotou oficialmente o nome Busscar, em uma estratégia de rebranding que buscava alinhar a empresa às novas tendências do mercado e ampliar sua presença internacional.
O lançamento dos modelos Jum Buss e El Buss marcou essa transição, trazendo um design moderno e características inspiradas em linhas europeias, em contraste com o estilo norte-americano do Diplomata.
Essa nova fase consolidou a Busscar como uma das líderes em inovação no setor, utilizando novos materiais, como fibra de vidro e tubos galvanizados, para aumentar a durabilidade e resistência das carrocerias.
Harold Nielson também liderou investimentos em processos industriais avançados, como o uso de CAD (projeto assistido por computador) e técnicas de produção just-in-time, que elevaram a eficiência e a qualidade dos produtos Busscar.
A transformação da Nielson para Busscar foi um movimento ousado e estratégico que fortaleceu a imagem da empresa. A marca passou a ser sinônimo de excelência e inovação, com modelos como o Jum Buss, El Buss, Vissta Buss, Panorâmico DD, além da linha de ônibus urbanos como o Urbanuss e o Urbanuss Pluss, ganhando destaque em feiras de transporte e conquistando novos mercados, tanto no Brasil quanto no exterior.
Entre os anos de 1980 e o começo dos anos 2000, como era bonito de se ver a “briga” pela qualidade entre a Marcopolo e a Busscar, uma das disputas comerciais mais acirradas que trouxe prestígio e qualidade para toda a linha de ônibus brasileiros, que até então era considerada como ultrapassada em comparação ao restante do mundo.
Expansão Internacional da Busscar nos anos 90
Durante os anos 1990, a Busscar, sob a direção de Harold Nielson, expandiu sua atuação para o mercado internacional. A empresa começou a exportar ônibus para países da América Latina, como México, Colômbia, Chile e Cuba. Em 1999, a Busscar assinou um contrato para fornecer 1.400 ônibus a Cuba e, no mesmo ano, estabeleceu uma joint venture no México para produção local, fortalecendo ainda mais sua presença no exterior.
Além da expansão na América Latina, Harold visava mercados em outros continentes. Em parceria com a norueguesa Vest Karosseri, a Busscar assumiu 30% do capital e a gestão industrial de uma unidade da Vest, consolidando uma operação de exportação para a Europa.
Essas iniciativas posicionaram a Busscar como uma das maiores encarroçadoras do mundo, levando o nome do Brasil a novos horizontes.
Inovações: Pioneirismo e Desenvolvimento Tecnológico
O período de Harold à frente da Busscar também foi marcado por inovações tecnológicas. A empresa desenvolveu o primeiro trólebus brasileiro em corrente alternada em colaboração com a WEG e a ZF, além de criar um protótipo de ônibus movido a GNV (gás natural veicular) em parceria com a Petrobras.
Outro marco de inovação foi o lançamento do Panorâmico DD, um modelo Double Decker que oferecia uma experiência de viagem premium, com acabamento luxuoso e soluções de design avançadas. Esse modelo, assim como outros desenvolvidos sob a liderança de Harold, foi projetado para oferecer conforto, segurança e uma experiência diferenciada aos passageiros.
A Tragédia: O Acidente que Mudou o Futuro da Busscar
Infelizmente, a trajetória de Harold Nielson foi interrompida de forma trágica em 1998.
No dia 30 de outubro, Harold voltava do Rio de Janeiro, onde havia participado de um evento da Associação Nacional de Transportes Públicos, quando o avião bimotor em que estava colidiu com o Morro Caju, na região de Garuva, próximo a Joinville. O acidente, causado possivelmente por condições climáticas adversas, tirou a vida de Harold Nielson, seu piloto e o filho do piloto.
A morte de Harold foi um golpe devastador para a Busscar. Ele era a alma da empresa, o líder visionário que guiava cada passo da marca e tomava decisões estratégicas. Sua ausência desestabilizou a administração da Busscar, e a empresa começou a enfrentar dificuldades financeiras e operacionais nos anos seguintes. Sem o mesmo espírito empreendedor de Harold, a Busscar passou a enfrentar uma série de desafios que culminaram em uma grave crise financeira.
O Legado de Harold Nielson
O legado de Harold Nielson vai muito além dos ônibus que a Busscar produziu. Sua visão de inovação, qualidade e compromisso com o conforto dos passageiros transformou o setor de transporte rodoviário no Brasil.
Nilson foi o grande responsável por trazer um padrão de excelência e modernização que colocou a Busscar entre as maiores fabricantes do mundo, deixando um marco na história dos ônibus rodoviários e urbanos.
A Busscar, mesmo após sua morte e as crises subsequentes, manteve o espírito de inovação que ele estabeleceu. A marca foi relançada em 2018 pelo grupo Caio, que adquiriu a massa falida e retomou a produção de modelos icônicos, como o Vissta Buss e o El Buss. Esse renascimento é, em parte, um tributo à visão e ao esforço incansável de Harold Nielson em transformar a Busscar em uma das principais encarroçadoras do Brasil.
Os esforços de Harold Nielson para expandir a Busscar para o mercado internacional e suas contribuições para a tecnologia e o design de ônibus rodoviários e urbanos estabeleceram um padrão que ainda é seguido na indústria até os dias de hoje.
A Memória de Harold Nielson Permanece Viva
A história de Harold Nielson é uma história de sucesso, determinação e uma visão de futuro que desafiou os limites do transporte rodoviário no Brasil. De uma pequena marcenaria familiar à liderança de uma das maiores encarroçadoras do mundo, Harold construiu um império que transformou a vida de milhões de passageiros e impactou profundamente a indústria de ônibus.
Embora sua vida tenha sido interrompida tragicamente, o legado de Harold Nielson permanece vivo na Busscar e nos modelos que continuam a cruzar as estradas do Brasil e da América Latina, além de estar presente com seu nome no terminal rodoviário de Joinville.
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